sábado, 11 de julho de 2009

Entrevista do mês de Julho - Ilda dos Santos












Ilda: Um exemplo de mulher brasileira

A corredora maringaense, Ilda dos Santos acaba de trazer para casa mais uma medalha e um troféu. Espalhados pela pequena sala e quarto, se misturam com retratos de família, enfeites, flores e um calendário. Ao ver tantas lembranças de vitórias, se imagina o extenso currículo atlético dessa pequena e franzina mulher.

Ex-cortadora de cana de açúcar decidiu largar a lavoura para dedicar-se ao atletismo em 1998. Tudo começou com a influência do seu irmão Edmilson Rodrigues dos Santos, 40, que também é atleta e atual técnico de "Ilda".

Vindos de uma grande família (13 irmãos, sendo 4 pares de gêmeos), Edmilson vinha de Maringá para visitar a família em Astorga e levava sua irmã para fazer companhia em seus treinos na pista do ginásio. Um dia fez um desfio à ela: "Quero ver se consegue dar cinco voltas na pista! Ela começou a correr e não parou mais, deu mais de 20 voltas!", conta seu irmão rindo.

Como o salário na lavoura era pouco, resolveu aumentar o orçamento da família com as corridas nos finais de semana. Ilda fala: "No começo eu não gostava muito de correr não, mas o dinheiro ajudava", fala ela entre riso, também comenta que sua mãe, Bernadete, ficava dizendo que correr demais fazia mal.

Mas com o tempo, o amor e o carinho pelo atletismo foram crescendo, juntamente com a paixão pela Maratona. "É o meu desafio. Tiro forças do fundo de mim para terminar a corrida, não sinto dor, cansaço ou calor. O que me move é a paixão pela prova e por minha filha. Só penso em passar a linha de chegada. Levo no braço a prova ."


Hoje, aos 37, ela não possui patrocínio, conta com o apoio da Associação dos Corredores de Maringá e recebe R$ 270,00 por mês para se manter treinando. "Não é todo mês que esse dinheiro vem. Ás vezes fico até 2 meses sem receber", diz. Também recebe R$ 50,00 de uma colega de seu irmão que possui uma pizzaria no bairro. "É pouco mas é dado com muito carinho, diz Adilson , proprietário da Pizzaria Splendor.


Fim do sonho

A falta de patrocínio acabou com o sonho de Ilda que iria participar da 36ª Maratona de Berlim, em setembro deste ano. A prova é a maior e mais famosa para os atletas dessa modalidade. Na edição de 2008 essa corrida teve 40.827 inscritos (sendo 107 países participantes).
Segundo o seu irmão e técnico, tudo no país é voltado para o futebol. "Se gasta milhões de reais com jogadores e clubes, enquanto os demais esportes ficam esperando uma chance. Medalha não segura patrocinador", relata.

Para dar conta do recado, Ilda treina duas vezes por dia, de segunda à sábado. Corre no parque da Pedreira e na UEM - Universidade Estadual de Maringá. E ainda conta com a dificuldade de ter apenas dois pares de tênis, um para o treino e outro para competir. Como comparação, uma atleta de elite tem pelo menos 10 pares de tênis. É como se fossem pneus para os carros de Fórmula 1. Tênis para dia de chuva, para sol, para provas leves (sem muita subida), para provas pesada (com muita subidas e descidas), para correr provas de 10km, para treinar na pista de atletismo e o tênis para correr maratona que deve ser sempre um número à mais do tradicional que calça.

Essa técnica é usada para não machucar os dedos e unhas devido ao grande esforço e trajeto.Ilda sempre viaja sozinha para competir. O motivo, a economia. Seu irmão viaja para competir também nos finais de semana. "Vai cada um para um lado", dizem em meio á risadas tímidas. A renda das famílias vem das provas que possuem premiação em dinheiro."Vivemos das corridas de bate-saco (termo usado pelos atletas para identificar as provas premiação em dinheiro)",dizem.Quando o assunto é resultado de provas que constam no currículo, Ilda fala com uma voz tímida mas orgulhosa de todos o seus resultados, dentre eles destacam-se os títulos de Campeão da Maratorna de Curitiba (2005), Bi-campeã da Maratona da Disney (2002 e 2003), Bi-campeã da Maratona de Florianópolis (2002 e 2003), Tri-campeão da Maratona de Blumenau (2003, 2004 e 2005) e o de vice-campeã da Maratona do Rio de Janeiro, realizado no último domingo, 28, com o tempo de 2h45’’.Em relação a continuar correndo sem patrocínio, Ilda fala, "fico preocupada, mas não tenho medo. Já que cheguei até aqui e não vou desistir de tudo que construí até agora. É a minha profissão, escolhi isso para mim e me orgulho disso."

Fotos e texto: Olga Leiria

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